terça-feira, 24 de outubro de 2017

A Carta de Pero Vaz de Caminha Certidão de Nascimento do Brasil. Valor histórico (análise sociológica) e literário (quinhentismo). Trechos da Carta. Músicas Pindorama e Tu Tu Tu Tupi. Alimentos indígenas e portugueses. Atividades



A célebre Carta do " Achamento"  ou descobrimento do Brasil foi escrita em forma de diário,  por Pero Vaz de Caminha em Porto Seguro, Bahia, entre 26 de abril e 2 de maio de 1500 (final do século XV). 


Destinava-se ao Rei  de Portugal Dom Manuel I, o qual passou, imediatamente, á Secretaria de Estado como documento secreto, para  evitar que chegasse às mãos  dos espanhóis a notícia do descobrimento do Brasil.  

“escritor-escrivão” Pero Vaz de Caminha revela-se o primeiro cronista do Brasil e se posiciona como testemunha ocular dos fatos. Registra os primeiros acontecimentos do encontro dos portugueses com a nova terra. Descreve sua geografia física e humana e revela o impacto cultural do encontro dos estrangeiros com os nativos.

Leia a carta na íntegra. Clique aqui      ou no link abaixo:        http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/carta_caminha.htm

VALOR HISTÓRICO DA CARTA DE CAMINHA 

A Carta de Caminha é considerada a Certidão de Nascimento do Brasil e nosso primeiro documento histórico, ou seja, o primeiro documento escrito sobre a História do Brasil. Relata a chegada dos portugueses e o primeiro contato  entre o europeu e o nativo indígena. O documento nos fornece os primeiros relatos históricos da formação do Brasil e contribui para o processo de aprendizagem dos alunos com base na sua análise aliada a outras fontes. 


É fato que todo vestígio do passado é uma fonte histórica em potencial.  Entretanto, apenas as fontes de valor legal e/ou institucional podem ser consideradas verdadeiros documentos históricos. O documento histórico quando utilizado como  recurso didático em sala de aula, constitui-se uma ponte entre o presente e o passado para o aluno.

Por isso, o trabalho de leitura e escrita a ser desenvolvido com os alunos a partir da Carta de Pero Vaz de Caminha,  deve  aproximá-los  dos procedimentos de trabalho de um pesquisador das Ciências Sociais, em particular a História, por ser um documento escrito,  legal e institucional.   

Primeira Missa no Brasil - Leitura por  Imagem


Vamos praticar?  
Pedro Álvares Cabral. Imagem
Leia a carta de Caminha. Observe atentamente  a tela pintada pelo brasileiro  Victor  Meireles em 1860. Ele se inspirou na referida carta. O que você achou dessa tela?  

Sua turma está encarregada de pintar um quadro semelhante, com o mesmo título: Primeira Missa no Brasil e expor na área de convivência de sua escola. Boa sorte!

Música Pindorama
Derivada do Tupi-Guarani, a palavra PINDORAMA significa "Terra das Palmeiras" e, diz a história, que seria o nome pelo qual os nativos chamavam as terras brasileiras quando do descobrimento em 22 de Abril de 1500 (final do século XV) pelas Naus Portuguesas comandadas por Pedro Alvares Cabral. 

Vamos Praticar ? 

1- Leia com muita atenção o texto da letra da música Pindorama. Clique aqui
ou no link:    https://www.vagalume.com.br/palavra-cantada/pindorama.html

Vamos aprender a cantá-la, com o grupo Palavra Cantada. Clique aqui
2- Em equipe de até quatro integrantes, identifique os fatos históricos presentes na letra da música Pindorama. 
3- Fale sobre o significado da palavra Pindorama.  

Victor Meirelles (1832-1903):  Primeira Missa no Brasil,  1860. Óleo sobre tela. Rio  de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes.  Imagem
Missa Celebrada em Porto Seguro, Bahia, em 26 de Abril de 1500.


VALOR LITERÁRIO DA CARTA DE CAMINHA  - O QUINHENTISMO


A Carta de Caminha não é um simples relato de viagem. Pode ser considerada Literatura, por possuir importantes elementos literários. A Carta faz parte da Literatura Portuguesa e tem considerável valor literário,  indo além de simples registro burocrático dos fatos.

É considerada também como o primeiro texto de valor literário do Brasil, por ter sido redigida pelo “escritor-escrivão” Pero Vaz de Caminha. Escrita em forma de  diário, o objetivo foi relatar ao rei de Portugal D. Manuel I, as primeiras impressões dos portugueses sobre a terra descoberta e seus habitantes.

O texto de Caminha pode ser denominado uma carta-diário que faz  uma crônica dos acontecimentos do encontro entre os dois povos. Esses gêneros, principalmente o diário, foram bastante difundidos nos séculos XV e XVI, quando os europeus expandiram suas fronteiras além-mar e entraram em contato com outros mundos. 

Apresenta elementos de uma crônica e características do estilo da Literatura de Viagem do Quinhentismo.  A crônica é um tipo de texto em que o autor desenvolve suas ideias baseando-se em fatos do cotidiano, ou seja, do dia a dia, ou sobre qualquer outro assunto  comum: política, mundo das celebridades, esporte etc.  

Quinhentismo é o nome dado a  todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, quando  a cultura europeia foi introduzida no país. Tem este nome pelo fato das manifestações literárias se iniciarem no ano de 1.500, ano da descoberta do Brasil (22 de abril de 1500).  

O  Quinhentismo compreende a descrição da terra e do índio,  os textos escritos pelos viajantes, jesuítas e missionários que aqui estiveram. No período do Quinhentismo a literatura brasileira ainda  não tinha sua identidade, a qual foi sendo formada sob a influência da literatura portuguesa e europeia, em geral. 

A Carta de Caminha inaugura o que se convencionou chamar de Literatura Informativa sobre o Brasil. Este tipo de literatura, também conhecida como Literatura dos Viajantes ou Literatura dos Cronistas, como consequência das Grandes Navegações, registrava dados de  levantamentos da “terra nova”, sua floresta e fauna, seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito diferentes dos europeus. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. 
Original da Carta  de Caminha.  
Clique sobre a imagem  para ampliar 

A principal característica da Carta de Caminha é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu diante do exotismo e da exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor à terra transparece no uso exagerado de adjetivos. 

Pero Vaz, ao longo de seu texto, abandonou as formalidades, como os pronomes de tratamento e também a referência direta ao rei.  Dirige-se ao leitor comum, preocupando-se em descrever com detalhes a nova terra e seus nativos, sendo considerado o relato mais confiável da chegada dos portugueses ao Brasil. 

                       ANÁLISE SOCIOLÓGICA DA  CARTA DE CAMINHA 

A Carta mostra a necessidade de registrar detalhadamente dos roteiros náuticos e as novidades. Os relatos  traduzem  o olhar ocidental em contato com novas paisagens, diferentes povos, estranhos costumes e crenças, resultando em  choque cultural. 

Caminha não esconde o seu deslumbramento com o que vê: terras férteis, vegetação exuberante, natureza belíssima e, mais do que tudo, a inocência dos nativos, que vivem nus e sem sentir vergonha.  “A inocência dessa gente é tal que a de Adão não seria maior”, registra o escrivão. Os portugueses sentiam-se como se tivessem chegado ao Paraíso.

Encontro entre índios e portugueses no 22 de abril de 1500, data do "achamento" do Brasil  

Para  a análise sociológica desse documento histórico,  levaremos em conta dois cenários que se desenham na Carta de Pero Vaz de Caminha:

Cenário 1: o primeiro encontro entre portugueses e indígenas no litoral sul da Bahia – Porto Seguro;  
Cenário 2: depois de momentos de hesitação, os dois grupos trocam objetos (escambo), prática que se tornaria  comum ao longo da colonização portuguesa.

Além disso,  o estudo da carta na disciplina Sociologia será conduzido fazendo uma abordagem cultural, focando nos seguintes aspectos:


I - Diferenças entre os índios e os  portugueses naquele período,  considerando que:

- Os índios desenvolveram sua cultura respeitando e adaptando-se às regras de sobrevivência nas florestas tropicais, buscando aprender a ler os códigos de interação entre a flora (plantas) e a fauna (animais), enquanto os portugueses se dedicavam a práticas mercantilistas, na busca de terras, matérias primas e metais preciosos, sem preocupação com o meio ambiente.
- Os índios praticavam a agricultura de subsistência sem fins comerciais, ao contrário dos portugueses;

II - Choque de culturas. Visões de mundo.Trocas por escambo. Imposição da cultura europeia (eurocentrismo); 


- O embate cultural que se seguiu ao primeiro encontro  entre o homem branco e o índio; 
- Os impactos e as mudanças nas organizações sociais já existentes, tanto a indígena quanto a portuguesa.


Essa classificação foi extremamente importante para o registro das informações sobre os índios produzidas pelos portugueses, franceses e outros europeus. Sem os documentos produzidos pelos colonizadores, as crônicas dos viajantes, a correspondência dos jesuítas e as gramáticas da "língua geral" e de outras línguas, não teríamos registros sobre os nativos, sua cultura e sua história. 

Os portugueses conheceram primeiro os povos que viviam no litoral. Por terem traços culturais semelhantes entre si, eles receberam dos colonizadores uma denominação geral: Tupi ou Tubinambá.   
Os outros grupos que tiveram menor contato, os portugueses deram o nome de  Tapuia, a exemplo dos povos que habitavam o interior do país e que não falavam a língua que os jesuítas deram o nome de "língua geral" ou "língua mais usada na costa do Brasil". 


Os portugueses inventaram a caravela, embarcação muito 
resistente à fúria dos mares

Povos 
pertencentes a diversas nações e com 
tradições, hábitos e idiomas  bem variados, viviam aqui. Muitos nem sabiam da existência uns dos outros. Estima-se que à época do descobrimento  eram faladas no Brasil  cerca de 1.300 línguas indígenas diferentes. O tronco Tupi reúne os maiores agrupamentos dessas línguas faladas no Brasil.  

Falamos dezenas de palavras que herdamos dos idiomas do tronco Tupi e de outras línguas indígenas.  Nomes de animais como jacaré, tatu e capivara, alimentos como pipoca, mingau e pamonha, nomes de cidades, plantas, rios, objetos e até fenômenos da natureza como  toró, herdamos dos nativos. 


Muitas cidades brasileiras têm nomes de origem indígena, como por exemplo: 

ARACAJU - Capital do estado de Sergipe, no litoral. Do tupi guarani ará = papagaio; caju (akaiu) => cajueiro;
Artesanato indígena
ARARAQUARA - Cidade e  município do estado de São Paulo. Serra que inclui os municípios de Piracicaba, Limeira.  
Camaçari -  Cidade na Região Metropolitana de Salvador/Bahia. Vem do Tupi guarani camasari = a lágrima do peito. Árvore combretácea semelhante ao tamaquaré;  
CURITIBA - do Tupi Guarani Curi = pinheiro, araucária (pinhão); TIBA = ajuntamento, quantidade (lugar). Nome da capital do Paraná. 

MURAL  TODO  MUNDO  FALA  A  LÍNGUA  TUPI  GUARANI

Vamos Praticar ?  Trabalhe em grupos de até quatro integrantes: 

1- Pesquise nomes de cidades e bairros do seu estado que sejam de origem indígena. 
2- Leia com muita atenção a letra da música Tu Tu Tu Tupi. Identifique no texto da letra: 
a) Nomes de alimentos   de  origem tupi-guarani;   b) também nomes de animais;
c) Nomes de  estados brasileiros, cidades e outros locais de origem tupi-guarani;
d) Outras palavras da mesma origem.   

Letra da Música Tu Tu Tu Tupi 


Assista ao vídeo com a música de autoria do brasileiro Hélio Ziskind  

Tu Tu Tu  Tupi                 

3-  Junto com os colegas de classe faça um mural com o título TODO MUNDO FALA A LÍNGUA TUPI GUARANI. Pesquise imagens de alimentos, plantas, animais e objetos de   origem  tupi;  também imagens das tribos Tupi e Tupinambá  para realizar  em grupo  a construção de outro mural. Acrescente imagens e nomes de cidades que aparecem na letra da  Música de Hélio Ziskind.
5- Memorize  e organize um  jogral com a poesia    -   Os Índios.  


 Poesia: Os Índios                                   Autor desconhecido 


Os índios moram na mata
Ocas e aldeias
Trabalham e fazem festas
Para comemorar a lua cheia.

Eles amam a natureza
Nela tudo é respeitado
As árvores e os rios
São sempre bem Conservados.

Tudo o que eles caçam
É muito bem divertido
O pai, a mãe e os filhos
Por todos são protegidos.

ÍNDIOS E PORTUGUESES: TURMAS ESTRANHAS. CHOQUE DE CULTURAS

Quando os portugueses chegaram ao Brasil levaram um grande susto. A tripulação saiu de Lisboa, capital de Portugal, que era uma cidade grande, com casas, lojas, igrejas e ruas cheias de gente. Aqui, se depararam com florestas imensas, plantas e animais desconhecidos e pessoas que viviam de um jeito nada parecido com o deles.  

Os índios viviam em moradias feitas de madeira e folhas, não usavam roupas, pintavam  o corpo, carregavam arcos e flechas e falavam seu próprio idioma. Os portugueses não tinham certeza sobre o tamanho das terras e pensaram que o Brasil era apenas uma ilha. Tanto que o primeiro nome  dado  foi Ilha de Vera Cruz e mais tarde Terra de Santa Cruz. Estes nomes revelam a forca da religião católica e suas influencias na nova terra. 

Os índios também se espantaram ao ver  os portugueses, que tinham  pele clara, falavam de um jeito estranho e se cobriam com roupas pesadas e esquisitas. Armas de fogo, facas, machados e outras ferramentas causaram surpresa. 

No começo, os dois grupos ficaram bem desconfiados, mas logo se entenderam por gestos.  Os índios foram visitar o capitão em seu navio, e depois receberam os portugueses em sua aldeia, oferecendo alimento e água, deixando-os felizes, após  tantos dias no mar, com pouca comida e água.

A imposição da religião  católica, o batismo e trocas dos nomes dos nativos


A celebração  da  missa solene, assistida por autoridades civis e religiosas  da frota de Cabral, era a todos  familiar, e ao mesmo tempo muito estranha aos nativos.  Diz o trecho da  carta:
... "Segundo o que a mim e a todos pareceu, essa gente não lhes falece outra coisa para ser toda cristã (...)  "Se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para batizar, porque já então terão mais conhecimento da nossa fé [...]".

Falando da terra, Caminha considera que:

"Querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo" (...) "O melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar".

Trocas culturais: alimentos e animais  trazidos pelos portugueses 

O clima, o solo, as plantas e os bichos eram muito diferentes dos que existiam na Europa. Os portugueses encontraram a Mata Atlântica com árvores altas e bem verdes. Trouxeram novas espécies de vegetais que se adaptaram por aqui. Mudas de  mangueira e  jaqueira, fruta-do-conde trazidos da Índia e plantadas  no Brasil, além de banana, manga, laranja, tangerina (mexerica), coco,  cana de açúcar. Apesar do coqueiro  ser um símbolo de nossas praias, essa planta não é nativa do Brasil e só foi trazida anos após o descobrimento. 

Os portugueses introduziram na alimentação dos índios   cereais, principalmente o trigo para fazer o pão, vinho,  couves, alfaces, pepinos, abóboras, lentilhas, alho, cebola, cravo, canela,  gengibre, cominho, coentro,  arroz, mostarda e diversos condimentos e ervas, além da criação do  gado, cavalo, caprinos etc., e o sarapatel ou sarrabulho, que trouxeram da  Índia.  A  feijoada trazida pelos portugueses, a qual não foi  criada pelos escravos, até porquê, é um  prato  típico em Portugal, que no Brasil  modificou-se e ganhou  identidade própria.

Os índios passaram a criar coelhos, galinhas, vacas, porcos e cavalos, animais que não existiam na América do Sul.  Vieram  com os portugueses, trazidas de outras colônias, frutas como: uva, figo, maçã, marmelo, pêssego, romã, cidra, tâmaras, melão, melancia. 

Os portuguese introduziram o  uso do sal e do açúcar, que os africanos e os  índios desconheciam. Não usavam óleos vegetais e muito menos gorduras animais para preparar os alimentos. Não conheciam a fritura nem os doces, antes do contato com os portugueses.

Alimentos  e animais  já conhecidos  pelos nativos indígenas  

Milho 
Os portugueses aprenderam  até a dormir em redes. Conheceram comidas novas, como o milhoalimento nativo do Continente Americano, e que os europeus desconheciam, muito usado nas tribos tupis, consumido em forma de mingau, assado ou cozido. Um dos navios voltou a Portugal com amostras de plantas e animais do Brasil, e frutos como caju e abacaxi, nativos da nova terraOs índios tinham como animais de estimação araras, tucanos, macacos, saguis, papagaios, cutias, antas, veados e jabutis 



Desaparecimento de populações indígenas  vitimadas por  doenças 

As roupas e os objetos dos europeus estavam cheios de bactérias e vírus. Os índios nunca tinham tomado contato com alguns desses microrganismos e doenças como a gripe mataram muitos deles.   Esses dados nos ajudam a entender os impactos e as mudanças nas organizações sociais já existentes, tanto a indígena quanto a portuguesa.

ATIVIDADES SOBRE A CARTA DE PERO VAZ DE CAMINHA

Leia com atenção os fragmentos selecionados  da Carta de Caminha para responder  o que se pede:

Trecho 1   
“ … Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. “


“ … A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas.  Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência.  Os cabelos deles são lisos. E os usavam cortados e raspados até acima das orelhas. E um deles trazia como uma cabeleira feita de penas amarelas que lhe cobria toda a cabeça até a nuca (…).

            Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, eles se tornaria, logo cristãos, visto que não aparentam ter nem conhecer crença alguma. Portanto, se os degredados que vão ficar aqui aprenderem bem a sua fala e só entenderem, não duvido que eles, de acordo com a santa intenção de Vossa Alteza, se tornem cristãos e passem a crer na nossa santa fé. Isso há de agradar a Nosso Senhor, porque certamente essa gente é boa e de bela simplicidade. E poderá ser facilmente impressa neles qualquer marca que lhes quiserem dar, já que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens. E creio que não foi sem razão o fato de Ele nos ter trazido até aqui.

Trecho 2
       Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta mais ao Sul até a outra ponta ao Norte, do que nós pudemos observar deste porto, é tão grande que deve ter bem ou vinte e cinco léguas de costa. Ao longo do mar, têm, em algumas partes, grandes barreiras, uma vermelhas e outras brancas; e a terra é toda chã e muito formosa. O sertão nos pareceu, visto do mar, muito grande; porque a estender os olhos não podíamos ver senão terra e arvoredos – terra que nos parecia muito extensa.

            Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem os vimos. Contudo, a terra em si é de bom clima, fresco e temperado, como os de Entre-D’Ouro-E-Minho, nesta época do ano. As águas são muitas; infinitas. De tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por causa das águas que tem!

Glossário (vocabulário):  Chã: plana;  Degredado: exilado;  Entre-D’Ouro-E-Minho: regiões litorâneas de Portugal;  Légua: representava para os portugueses, 5512 m. Sertão: refere-se ao interior das terras encontradas.

Questões propostas

1. O texto apresenta algumas características dos primeiros indígenas avistados pelos portugueses. De que forma Caminha os descreveUtilize as informações do texto para construir sua resposta.
2. Como foi tratada a questão da religiosidade das populações indígenas pelo autor da carta? Justifique sua resposta.
3. Partindo da narração acima, é possível afirmar que Caminha teve uma boa impressão das terras encontradas? Por quê?
4. Quais interesses econômicos dos portugueses sobre essas terras ficaram evidentes no texto? Justifique sua resposta, utilizando os trechos que leu.


Amplie seus conhecimentos. Veja também: 

Ora pois, uma língua bem brasileira! O Português do Brasil. A influência africana. O Português como segunda língua dos escravos. As duas línguas gerais dos negros no Brasil: o Nagô ou Iorubá e o Quimbundo. Palavras de origem africana



Sites pesquisados 
A carta de Pero Vaz de Caminha   na íntegra
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/carta_caminha.htm
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0015.html
Quinhentismo
http://www.soliteratura.com.br/quinhentismo/
http://novaescola.org.br/fundamental-2/carta-pero-vaz-caminha-como-interpretar-nosso-primeiro-documento-702761.shtml
http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0016.html
http://www.sohistoria.com.br/ef2/descobrimento/p2.php
http://historiaespetacular.blogspot.com.br/2011/09/as-grandes-navegacoes.html
Letra e vídeo  da música Pindorama

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