sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Clássicos da Literatura Infantil 2ª Parte: Conto de Fadas A Bela Adormecida. Biografia dos Irmãos Grimm. Atividades




A Bela Adormecida é um clássico conto de fadas que  relata   a história de  uma princesa, o personagem principal,   que é enfeitiçada para cair num sono profundo, até que um príncipe encantado a desperte com um beijo de  amor verdadeiro. 

Esse conto de fadas é muito antigo, publicado pela primeira vez em  1634 (1ª. metade do século VXII), na versão escrita pelo escritor italiano Giambattiste  Basíle, no seu *Pentamerone, intitulado: " O Sol, A Lua e  Talia".  

A segunda versão  foi publicada   pelo escritor francês Charles Perrault, em 
1697 (final do século XVII), no livro Contos da Mãe Ganso, sob o título de A Bela Adormecida no Bosque.

A versão mais conhecidamais aceita e divulgada, com mais de  200 anos de popularidade desse famoso conto,  é a dos Irmãos Grimm, publicada em 1812 (início do  século XIX),  na obra Contos de Grimm, com  o título A Bela Adormecida (Dornröschen, título  no  idioma original, o  alemão).

O conto foi adaptado para o balé em 1890, por Tchaikovsky, que se  inspirou  na versão do  século XVII, do  escritor francês   Charles Perrault.  Em 1959 foi levada  para o  cinema por Walt Disney, com o título em inglês   Sleeping Beauty  (A Bela Adormecida).  

É   um filme de animação de longa-metragem, considerado um clássico, adaptado  das  versões  de Charles Perrault, e do balé de  Tchaikovsky.  Em 2012 foi lançada  uma nova produção do conto intitulada  Maleficent, desta vez revelando a perspectiva da bruxa má, Malévola.

O palácio Real 
Os nomes da personagem protagonista do famoso conto  variam:  Talia,   "A Bela Adormecida" , A  Princesa.  Em  cada versão  ela  tem um nome diferente: em Sol, Lua e Talia, ela tem o nome de Talia, cuja derivação provém da palavra grega Thaleia, que significa "o florescimento". 

No idioma original, o alemão,   é chamada tal como no título -  Dornröschen (Dorn = espinho;  röschen  =  florzinha,diminutivo de flor).   Algumas versões do conto traduzem o nome da princesa para Rosa do Espinheiro, Flor do Espinheiro ou Rosa de Urze, já que originalmente o reino no qual a princesa dorme é cercado por um extenso espinheiro.  

Perrault, por sua vez, não lhe deu nome, sendo   chamada, simplesmente,  "A Princesa", enquanto Aurora é o nome da sua filha.  No entanto, Tchaikovsky 
transferiu o nome da filha para a mãe, sendo  Aurora o nome da princesa no filme da Disney. Por fim, os Irmãos Grimm referem-se à princesa como A Bela Adormecida.

* Pentamerone = um livro chamado Pentamerone ou o conto dos contos,
escrito pelo escritor italiano Giambattiste Basile, que reuniu contos já existentes na cultura popular. Esse livro reúne 50 contos de fadas escritos de forma diferente das atuais,   entre eles Cinderela e A Bela Adormecida. 

Sinopse da história

Era uma vez um rei e uma rainha que queriam ter um filho, sem sucesso. Um dia a rainha estava se banhando e apareceu um sapo que lhe disse: "seu desejo será realizado, você dará à luz uma menina". Nasceu uma menina muito  formosa, e o rei preparou uma grande festa de batizado.  

Floresta de urzes

Havia treze fadas em seu reino, mas como ele só possuía doze pratos de ouro, nos quais elas poderiam comer, uma delas teria de ficar em casa. 


A festa foi celebrada e as fadas-madrinhas  presentearam a criança com dotes mágicos: a beleza, o talento musical, a inteligência,  a virtude, entre outras bênçãos apreciadas.  

Quando onze já tinham falado, entrou de repente a décima terceira, que não foi convidada, e para se vingar, jogou uma maldição sobre a princesa,  cujo resultado seria a morte pelo picar do dedo num fuso quando a princesa completasse 16 anos. 

Porém, restava o presente da 12ª fada. Assim sendo, esta suavizou a morte, transformando a  maldição da fada malvada num sono profundo,  até o dia em que seria despertada por um beijo de um amor verdadeiro.  Cresceu uma floresta de urzes em torno do castelo, onde  muitos príncipes morreram em em busca da Bela Adormecida. 

Conheça a história numa versão resumida...


A BELA ADORMECIDA

O príncipe desperta a princesa adormecida
Quando a princesa Aurora nasceu, o rei e a rainha fizeram uma festa para o seu batizado e convidaram todas as fadas do reino. Cada fada presenteou a princesa com um dom: beleza, bondade, alegria, inteligência e amor.

De repente, apareceu a bruxa Malévola, furiosa por não ter sido convidada para a festa. Disse para a rainha:
― Quando a princesa completar quinze anos espetará o dedo no fuso de uma roca e morrerá!
A fada Flora que ainda não havia dado seu presente conseguiu modificar o feitiço dizendo:
― A princesa não morrerá, dormirá um sono profundo até que o beijo de um príncipe a desperte.

O rei ordenou que todas as rocas do reino fossem destruídas. E pediu que as fadas protegessem a princesa.

A princesa crescia feliz, cada vez mais bela e amorosa.
A princesa e a fada Malévola
No dia do seu aniversário de 15 anos ela resolveu dar um passeio sozinha. Andando pelo palácio, encontrou uma escada que levava para uma velha torre. 
Subiu e lá encontrou uma roca. Aproximou-se curiosa e ao tocá-la, espetou seu dedo no fuso da roca e caiu num sono profundo. No mesmo instante todos no castelo adormeceram.

Com o tempo uma imensa floresta cresceu ao redor do castelo. Muitos anos depois, um príncipe de um país vizinho que ouvira falar da história da Bela adormecida resolveu  encontrar o castelo.

Corajoso, o príncipe atravessou a floresta e achou o castelo. Entrou, e espantado viu que todos dormiam, até os animais. Subiu a escada da torre e encontrou a princesa.

Em uma cama de ouro dormia a mais linda jovem que ele  já tinha visto. O príncipe ficou apaixonado,  aproximando-se dela, e a  beijou. No mesmo instante, a princesa Aurora despertou e com ela todo o reino.
Poucos dias depois, a princesa Aurora e o príncipe se casaram e viveram felizes para sempre.

Biografia dos Irmãos Grimm


Os irmãos Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859) conhecidos simplesmente por  Irmãos Grimm, foram dois escritores alemães estudiosos de literatura, filologia,  autores das mais célebres e clássicas histórias para crianças em todos os tempos, que se dedicaram ao registro de diversas fábulas infantis,  com as quais conseguiram grande notoriedade. 

Além disso, os dois contribuíram de maneira significativa para a língua alemã, com um dicionário – O grande Dicionário Alemão, ou  Deutsches Wörtebuch – e alguns estudos de linguística e folclore.

 Nascidos em Hanau, os dois  irmãos decidiram se dedicar aos estudos de história e linguística por meio de diversas narrativas, lendas ou sagas germânicas conservadas pela tradição oral, que foram recolhidas diretamente da memória popular. 
Esses contos foram recolhidos ao longo de diversos anos, começando em 1806.  Ambos estudaram em Marburgo e, de 1808 a 1829, trabalharam em Kassel. Os dois irmãos foram professores na Universidade de Göttingen e se destacaram  como escritores de literatura infantil.  

Algumas das obras mais famosas dos irmãos Grimm são:  Branca de Neve, Rapunzel, Cinderela, A Bela Adormecida, Hansel e Gretel (traduzidos para João e Maria), entre outras.

Atividades

I - O conto que você acabou de ler  tem várias versões, sendo uma a mais conhecida e popular.  Qual o nome da história? Quem são os seus autores?  Qual a personagem  protagonista da história?

II - Os contos costumam  terminar com uma expressão característica. Escolha a correta:
a)  ( ) Era uma vez…                    b) ( ) Isso foi há muito tempo... 
c) ( ) E foram felizes para sempre.

III -  Uma fada má enfeitiçou a princesa que dormiu um sono profundo e muito longo. Por quê?   Quem a acordou e como? Que idade ela tinha ?

IV - Onde viveu a princesa durante o tempo em que ficou longe dos pais? 

V - As fadas-madrinhas levaram muitos presentes para a princesa. Quais estão citados no texto? Em que ocasião as fadas levaram os presentes?

Acompanhe os episódios anteriores, da série clássicos da literatura infantil, onde apresentamos três dos mais conhecidos. 

Clássicos da Literatura Infantil. 1ª Parte: A Fábula Os Três Porquinhos. Estratégias de Estudo e Atividades

http://loucosportecnologias.blogspot.com.br/2014/02/classicos-da-literatura-infantil-1.html

Clássicos da Literatura Infantil 3ª Parte: Pinóquio.Conheça Collodi, a Cidade de Pinocchio. Biografia do Autor Carlo Collodi. Atividades


Referências
 http://volobuef.tripod.com/tr_dornroeschen.htm
Todas as imagens são do Google.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Clássicos da Literatura Infantil. 1ª Parte: A Fábula Os Três Porquinhos. Estratégias de Estudo e Atividades


Os contos de fadas e as fábulas são um grande recurso  para o professor trabalhar  e estimular a leitura em sala de aula, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio. É um desafio, diante das muitas opções oferecidas às crianças e aos jovens: televisão, vídeo game, internet, jogar bola com os amigos, passear no shopping  etc. 
A fábula Os Três Porquinhos  trabalha o imaginário das crianças, e como ocorre neste  gênero literário,  seus  personagens são exclusivamente  animais, destacando-se:   os  três   porquinhos  Cícero, Heitor e Homero (Prático, na versão para o português) e um lobo,  que deseja devorar os porquinhos.
Ao ler uma história para as crianças precisamos conhecê-la muito bem, pois a entonação conta muito, principalmente para crianças  em fase de letramento. Afinal, somos nós adultos os responsáveis por gerar nelas o desejo de aprender a ler.
Sinopse da história: Era uma vez três porquinhos que saíram de casa e foram morar sozinhos na floresta. Ao  saírem  da casa de sua mãe (em algumas versões, da avó), eles foram construir cada um a sua própria casaCícero, o mais preguiçoso, não queria se cansar e construiu uma  cabana de palha. Heitor decidiu construir uma cabana de  madeira, enquanto Prático optou por construir uma casa  melhor estruturada, com   tijolos e  cimento. Como a sua casa demorou mais tempo para ser construída, Prático muitas vezes via os irmãos se divertindo enquanto se esforçava para terminar o trabalho. Os três porquinhos viviam tranquilamente em suas próprias casas, até o dia em que o Lobo  Mau apareceu. 
Observe as figuras. Conheça a história numa versão bem resumida...


 OS TRÊS PORQUINHOS

Era uma vez três porquinhos que saíram da casa de sua mãe. Cada um construiria a sua própria casa. Seguiram caminhos diferentes.
O primeiro porquinho construiu a sua casa com palha. Logo ficou pronto e ele foi dormir.
Chegou um lobo que queria comer o porquinho e disse:
-          Abra esta porta ou derrubarei esta casa com um sopro só!
O porquinho não abriu. O lobo soprou e derrubou a casa.  O porquinho fugiu correndo.
O segundo porquinho fez sua casa com galhos de árvore. Logo ficou pronta e ele foi dormir.
Outra vez veio o lobo:
-          Porquinho, abra a porta ou vou assoprar e derrubar a sua casa.
O porquinho não abriu, então o lobo assoprou e derrubou a casa. Mas o porquinho fugiu e se escondeu, e o lobo queria saber: “Onde se meteu este porquinho?”
O terceiro porquinho construiu a sua casa de tijolos. Para lá foram os seus irmãos e o lobo também.
Mas desta vez, o lobo soprou até cansar e não derrubou a casa.
Resolveu descer pela chaminé, mas a lareira estava acesa e ele saiu pegando fogo.
O lobo foi embora e os porquinhos ficaram muito felizes morando na casinha de tijolos.

Os Três Porquinhos com medo do Lobo Mau 
 O primeiro porquinho, de nome Cícero,  construiu  sua casa com palha de madeira. 
A cabana logo ficou pronta e Cícero  foi dormir.
O lobo soprou e derrubou a casa.  O porquinho fugiu correndo.
O segundo porquinho, de nome Heitor,  fez sua casa com madeira. 
O lobo  queria saber: “Onde se meteu esse porquinho?”, 
mas não encontrou Heitor.
O terceiro porquinho, de nome Prático,  construiu a sua casa  bem estruturada, de tijolo e cimento. 
Os dois irmãos foram morar na casa de Prático porquê era mais segura. 
O lobo  então, decidiu  entrar na casa   descendo pela chaminé, mas a lareira estava acesa.
O lobo então fugiu assustado, foi embora e nunca mais voltou. 
Os Três Porquinhos ficaram muito felizes morando na casinha de tijolos, e viveram felizes para sempre. 

Que lições podemos tirar da historinha ?  

Podemos tirar da história  algumas lições muito importantes: o primeiro porquinho, Cícero, com sua cabana de palha, representa a vida  fácil, frágil  e a  preguiça. Quando a casa de palha do porquinho é destruída, ele busca abrigo na casa de madeira de seu irmão Heitor, que também é destruída pelo lobo. Os dois porquinhos buscam refúgio na casa de Prático, que  é firme, feita de tijolos e cimento, à  prova de lobos maus, um  refúgio seguro, feito com paciência, muito capricho e sacrifício. 
Reflita: Como você executa suas tarefas escolares ? Com paciência, bem feitas, ou de qualquer jeito, para ir brincar?

Sugestões de estratégias para o  trabalho  em sala de aula:
  • Abertura das atividades  com uma acolhida festiva  para os alunos,   ao som da música "Quem Tem Medo do Lobo Mau" e máscaras de porquinhos para cada um; 
  • Distribuir cópias individuais da letra da música e do texto da fábula; 
  • Trabalhar com a leitura dramatizada;
  • Oficinas de artes reproduzindo o cenário da história. 
  • Representação teatral; Escrever e enviar convite para as outras turmas da escola  assistirem a encenação.
  • Busca de informações no texto (encontrar a palavra lobo,  por exemplo);
  • Observação das figuras. Relacionar  o tempo gasto na construção das casas,  o material utilizado e sua resistência; 
  • Comparar a atitude de cada porquinho ao fazer sua casa;
  • Trabalhar o vocabulário e situação problema;
  • Confeccionar um livro com as fábulas e contos trabalhados; 
  • Observar a grafia correta das palavras e frases durante a confecção do livro.  
   Atividades

1. Você gostou da historinha ? Qual o título ?  Qual o gênero literário ?
2. Pesquise as características dos gêneros literários: fábula e conto. Quais características você identificou  na fábula aqui apresentada
Veja no link abaixo informações sobre fábulas. 


Biografias de Jean de La Fontaine e Esopo. As Fábulas a lebre e a tartaruga. O leão e o mosquito. O caranguejo e sua mãe. Interpretação de texto


3. Você gostou da música? Copie a letra da musica. Atente para a grafia correta  das palavras.
4. Cite  os  animais  que aparecem na historinha e os nomes próprios  que  lhes foram dados. 
5. Você tem algum animal de estimação? Qual o nome do seu animalzinho?  É um nome próprio ou um nome comum
Vídeo-aula com a  música "Quem Tem Medo do Lobo Mau"
Letra da música "Quem Tem Medo do Lobo Mau"

Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau...
Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau...

Eu sou lobo...mas não sou lobo mau.
Eu sou lobo bonzinho e amiguinho, e vou ajudar vocês a cantar.
Então,  depois da introdução dos porquinhos, vocês entram,  tá
?

Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau...
Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau...
Fonte: http://musicasinfantilparacriancas.blogspot.com.br/2011/11/lobo-mau.html

Acompanhe os episódios anteriores, da série clássicos da literatura infantil, onde apresentamos três dos mais conhecidos contos.


Clássicos da Literatura Infantil 3ª Parte: Pinóquio.Conheça Collodi, a Cidade de Pinocchio. Biografia do Autor Carlo Collodi. Atividades

Clássicos da Literatura Infantil 2ª Parte: Conto de Fadas A Bela Adormecida. Biografia dos Irmãos Grimm. Atividades


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O Gato que Gostava de Cenoura, de Rubem Alves. Partes 1 e 2. Biografia do Autor. Atividades

O livro de autoria do Professor e escritor brasileiro   Rubem Alves ,  de 18 páginas, publicado pela  Editora LOYOLA,  em 1999, conta a história de Gulliver, um gato   diferente de todos os outros que você já viu. 
Esta é a história de Gulliver, um gatinho que não quer saber de caçar peixes, ratos ou passarinhos. Gulliver é um gato   diferente de todos os outros que você já viu.  Na realidade ele gosta de cenouras

Felinos por natureza são caçadores. Caçam peixes, ratos, pássaros... mas este gato, chamado Gulliver, não gostava de caçar. Ele gostava mesmo de comer... cenouras! 

É, cenouras, igual a um coelho! Mas isso era segredo. Os outros gatos não podiam saber que ele é vegetariano... o que eles diriam quando soubessem que Gulliver não caça, não come ratos? 

Vamos conhecer toda  historia. Você vai gostar.


O  Gato que Gostava de Cenoura  - 1a. Parte 
Gulliver — esse era o nome do gatinho recém-nascido — trouxe grande alegria a seus pais, quando nasceu. A mãe gata e o pai gato puseram esse nome no filho — o nome de um gigante! — porque sonhavam que ele seria um gato enorme, forte, valente, caçador.

Mas, para espanto de seus pais, Gulliver cresceu um gato diferente. Não gostava das coisas que os gatos normais gostavam: peixes, ratos e passarinhos. Seus pais lhe traziam deliciosos ratinhos recém-nascidos, pardais saborosos, peixes perfumados: tudo em vão. Seus pais acharam que ele estava doente. Levaram-no ao médico. Mas depois de muito examiná-lo o médico concluiu que ele não tinha doença alguma. A doença dele — se é que é doença — não está no corpo. Deve estar na alma...”.

O fato é que os pais ignoravam que Gulliver comia escondido, comida que era proibida para gatos. Comia comida que só os coelhos comiam! Cenoura! Gullinho era um gato diferente! Gato que comia cenoura... Seus pais estranhavam que ele fosse um solitário, estava sempre sozinho. Não andava com os outros gatos. Claro que não. Os outros gatos gostavam de sair juntos para caçar e comer ratos. Um dia até que Gulliver tentou. Mas vomitou. A alma de Gullinho era feita de cenouras e não de ratos..

Um dia, a mãe gata, preocupada com o filho, disse ao marido:
— Acho que você deveria seguir o Gullinho. Tenho medo de ele se meta em más companhias. E assim foi. Na próxima vez que Gullinho saiu sozinho seu pai o seguiu sem que ele o visse. Andou muito, até chegar ao sítio de seu Joaquim. Lá havia canteiros com todo tipo de hortaliças, ente elas — lindas, amarelinhas, doces, fresquinhas — cenouras a perder de vista. Aí Gullinho sorriu da felicidade e começou a comer a comida que era proibida para os gatos.

Seu pai quase morreu do coração. O filho, que em seus sonhos deveria se parecer com um tigre, na realidade se parecia mais com um coelho. Voltou para casa. E ali, ele e a gata, sua mulher, choraram amargamente.

Plantação de cenoura

Os pais terem descoberto ainda não foi nada. O terrível foi quando os outros gatos, colegas de escola, passaram a suspeitar dos hábitos de Gullinho.


Gulliver tornou-se objeto de zombaria. Seus colegas lhe puseram o apelido de coelho...
Os pais, padecendo com o sofrimento do filho, resolveram apelar para a religião. Pra Deus tudo é possível. Mandaram então que o Gulinho fosse conversar um padre.

O gato-padre era um gato impressionante. Pelo lustroso, pretíssimo, olhos verdes, longo rabo encurvado. Seu nome era D. João Severo. Ele abriu um livro sagrado e disse que Deus, o Gato Supremo, determinara que ratos, passarinhos e peixes são os manjares dos deuses. Assim, por determinação do Deus-Gato, gatos têm de comer ratos, passarinhos e peixes. Comer cenouras é pecado mortal. É contra a natureza. Aí lhe falou sobre o inferno, um lugar terrível para onde vão todos os gatos que comem cenouras. — Esse será seu destino se você não mudar seus hábitos alimentares — rematou.

Salada de cenoura e folhinhas verdes 

Seus pais não desanimaram. Tinha de haver uma cura. Enviaram Gulliver a um psicanalista, o melhor, o mais caro, Dr. Gatan. Tiveram de tirar dinheiro do banco para pagar o tratamento. Pais são assim: fazem os maiores sacrifícios para que os filhos fiquem iguais a seus sonhos.

A análise durou vários anos. Ao final da análise, Dr. Gatan lhe deu uma explicação complicada. Falou de Freud, de Édipo, de repressão. Nem ele nem seus pais entenderam a explicação. Explicações não adiantam. Explicações ficam na cabeça. Não chegam até o corpo, onde mora o sofrimento. Gulliver continuou a gostar de cenouras... (continua).

Autor : Rubem Alves
fonte: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2013/05/colunistas/rubem_alves/60427-o-gato-que-gostava-de-cenouras.html

O  Gato que Gostava de Cenoura  - Continuação -  2.ª Parte do Livro 

Cenoura tem vitamina E
Acontece que na escola havia um professor que compreendeu o sofrimento de Gulliver, sempre sozinho, sem amigos, objeto da zombaria dos colegas.

— Quero falar com você — disse ele a Gulliver — no meu escritório.
Gulliver estremeceu. Será que o professor o repreenderia por causa de seu gosto por cenouras?

— Quero contar uma coisa a você — ele começou, depois de fechar a porta. 

— A genética nos conta que nosso destino está gravado nas células de nosso corpo, num disquete muito, muito pequeno chamado DNA. Ele já está no feto, antes que o bichinho nasça. Antes de você nascer, seu corpo já estava programado pelo DNA: a forma de seus olhos, a cor de seu pelo, se você seria gato ou gata. 

É assim com todas as coisas vivas. Os cachorros, os coelhos, os gambás, os sabiás, as curruíras, os urubus: todos são diferentes porque seu DNA é diferente. I

sso vale até mesmo para as plantas: de semente de abóbora só nasce abóbora. De semente de carvalho só nasce carvalho. E o DNA é implacável: aquilo que a natureza fez ninguém é capaz de desfazer.

Gulliver não estava entendendo a razão daquela aula, mas estava achando a explicação interessante. O professor, então, prosseguiu:

— Por vezes, o disquete DNA não funciona da forma esperada. E, quando o bichinho nasce, nasce um pouquinho diferente. Alguns, chamados daltônicos, não veem as cores do jeito como a maioria vê. Outros, chamados canhotos, funcionam melhor com a mão esquerda que com a direita. Eles têm de tocar violão ao contrário — e deu uma risada. — Parece que esse é o caso daqueles que têm uma dieta de amor diferente daquela reconhecida como padrão. O padrão é gato comer rato. Mas você gosta é de cenoura.

— Os chamados heterossexuais amam o diferente: o corpo dos homens se comove ao ver um corpo de mulher; o corpo das mulheres se comove ao ver o corpo de um homem. Mas o corpo dos homossexuais, quem sabe se por obra do DNA, se comove ao ver um corpo igual ao seu. Tal como aconteceu com Narciso, aquele do mito dos gregos: ele se apaixonou por sua própria imagem refletida na água da fonte. É tão interessante isso: que nosso sexo seja movido por uma imagem!

Dito isso, ele parou, e pareceu mergulhado num sonho. De repente acordou, deu uma risadinha, e disse:

— E eu chego a pensar que Prokofieff... Você sabe quem é Prokofieff? É um compositor. Você nunca ouviu sua música 'Pedro e o Lobo'? É uma estória para crianças, muito divertida. Tem um gato que toca clarinet... Pois é: penso que é possível que ele também tenha sido um equívoco do DNA. Por vezes, o DNA se engana para melhor.
Suco de cenoura. Boma para a saúde

De repente, Gulliver compreendeu que o professor sabia tudo sobre ele. Sabia e compreendia. Compreendia e não queria consertá-lo, não queria torná-lo igual aos outros. Ele era amigo.

“Meu Deus!” — ele gritou em silêncio. “Eu tenho um amigo! Eu tenho um amigo!”

E a felicidade de ter um amigo foi tão grande que ele se pôs a chorar como nunca chorara. Ele gostava era de comer cenouras. 

Não queria gostar de comer nem ratos nem passarinhos nem peixes. Não queria ficar igual aos outros. Seu único desejo era não ter vergonha. Seu único desejo era que os outros deixassem que ele fosse o que era: um gato que gostava de cenouras!

Em resumo: ele queria ter amigos. Porque um amigo é isso: alguém de quem não é preciso se esconder.

Mas agora ele tinha um amigo. Olhou para o professor, enxugou as lágrimas de alegria e não disse nada. Não era preciso.


Breve biografia do autor. Quem é Rubem Alves

Rubem Alves 
Rubens Alves  é educador, escritor e psicanalista, doutor em filosofia pela Universidade de Princeton,  EUA e Professor emérito da UNICAMP. Tem escrito sobre temas da sociologia, psicanálise, filosofia e teologia, e tem  uma extensa obra de livros infantis. 

Saiba mais sobra o autor. Clique no link abaixo:

http://serravallenaafricadosul.blogspot.com.br/2013/10/dia-do-professor-gaiolas-ou-asas-ha.html


Atividades

Releia  a primeira e a segunda parte da  historinha   para  responder:

1. Qual o título da historinha 
2. Quem é o  autor ?
3. Qual o nome do personagem principal  da historinha ?
4. O que  ele  tinha de diferente? O que ele gostava de comer 
5.  Por que  seus  pais  ficaram tristes?
6. Na segunda parte do livro, o autor fala  como era o comportamento de Gulliver na escola. Descreva em breves palavras. 
      7. Você entendeu a explicação do professor sobre DNA ? Conte para nós o que você capitou. 
      8. Qual foi a conclusão de Gulliver sobre o Professor 
       9. Você gostou do final da história      Crie você mesmo a sua versão final.   Como você gostaria que terminasse 
      10. Escreva os nomes dos animais que são citados no texto: