sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A Casa de Rubem Alves - Cozinha. Interpretação de texto


“ Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um. O meu céu não é igual ao seu. Porque céu é o lugar de reencontro com as coisas que a gente ama e o tempo nos roubou. No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou...” Rubem Alves

Escolhi o  texto A Casa de Rubem Alves  - Cozinha,  com o objetivo de mostrar para o  público infanto-juvenil, um pouco do nosso passado, quando não havia o fogão a gás, e a vida era muito diferente dos dias atuais. Conheci e usei o fogão a lenha. O texto me trouxe esta lembrança.  Iremos conhecer o interior das casas brasileiras do passado,  na companhia do escritor e educador brasileiro  Rubem Alves, que   começa nos apresentando a cozinha. 

A Casa de Rubem Alves - Cozinha

Qual é o lugar mais importante da sua casa? Eu acho que essa é uma boa pergunta para início de uma sessão de psicanálise. Porque quando a gente revela qual é o lugar mais importante da casa, a gente revela também o lugar preferido da alma.

Nas Minas Gerais,  onde nasci,  o lugar mais importante era a cozinha. Não era o mais chique e nem o mais arrumado. 

Sala de visitas: "lugar chique e arrumado"
Lugar chique e arrumado era a sala de visitas, com bibelôs, retratos ovais nas paredes, espelhos e tapetes no chão. Na sala de visitas as crianças se comportavam bem, era só sorrisos e todos usavam máscaras. Na cozinha era diferente: a gente era a gente mesmo, fogo, fome e alegria.


"Seria tão bom, como já foi...", diz a Adélia.  A alma mineira vive de saudade. Tenho saudade do que já foram  as velhas cozinhas de Minas, com seus fogões de lenha, cascas de laranja secas penduradas, para acender o fogo, bule de café sobre a chapa, lenha crepitando no fogo, o cheiro bom da fumaça, rostos vermelhos.  Minha alma tem saudades dessas cozinhas antigas...

Fogo de fogão de lenha é diferente de todos os demais fogos. Veja o fogo de uma vela acesa sobre uma mesa. É fogo fácil. Basta encostar um fósforo aceso no pavio da vela para que ela se acenda. Não é preciso nem arte nem ciência. 



Conha moderna com fogão a gás 
Até uma criança sabe. Só precisa um cuidado: deixar fechadas as janelas para que um vento súbito não apague a chama. O fogo do fogão é outra coisa. Bachelard notou a diferença: "A vela queima só. Não precisa de auxílio...

As pessoas da cidade, que só conhecem a chama dos fogões a gás, ignoram a arte que está por detrás de um fogão de lenha aceso. Se os paus grossos, os paus finos e os gravetos não forem colocados de forma certa, o fogo não pega. Isso exige ciência. E depois de aceso o fogo é preciso estar atento. É preciso colocar a acha suplementar, do tamanho certo, no lugar certo. Quem acende o fogo do fogão de lenha tem de ser também um atiçador.
O fogão de lenha nos faz voltar "às residências de outrora, as residências abandonadas, mas que são, em nossos devaneios, fielmente habitadas" (Bachelard).

Já se disse que o homem surgiu quando a primeira canção foi cantada. Mas eu imagino que a primeira canção foi cantada ao redor do fogo, todos juntos se aquecendo do frio e se protegendo contra as feras. 

Antes da canção, o fogo. Um fogo aceso é um sacramento de comunhão solitária. Solitária porque a chama que crepita no fogão desperta sonhos que são só nossos. Mas os sonhos solitários se tornam comunhão quando se aquece e come.

Nas casas de Minas a cozinha ficava no fim da casa. Ficava no fim não por ser menos importante mas para ser protegida da presença de intrusos. Cozinha era intimidade. E também para ficar mais próxima do outro lugar de sonhos, a horta-jardim. Pois os jardins ficavam atrás.

Chuchu
 Lá estavam os manacás, o jasmim do imperador, as jabuticabeiras, laranjeiras e hortaliças. Era fácil sair da cozinha para colher chuchus, quiabo, abobrinhas, salsa, cebolinha, tomatinhos vermelhos, hortelã e, nas noites frias, folhas de laranjeira para fazer chá.
Ah!  Como a arquitetura seria diferente se os arquitetos conhecessem também os mistérios da alma ! Se Niemeyer tivesse feito terapia, Brasília seria outra. Brasília é arquitetura de arquitetos sem alma.

Se eu fosse arquiteto minhas casas seriam planejadas em torno da cozinha. Das coisas boas que encontrei nos Estados Unidos nos tempos em que lá vivi,  estava o jeito de fazer as casas: a sala de estar, a sala de jantar, os livros, a escrivaninha, o aparelho de som, o jardim, todos integrados num enorme espaço integrado na cozinha.


 O Jantar - pintura de  Jean Baptiste  Debret.
O Senhor, a Sinhazinha e seus escravos

Todos podiam participar do ritual de cozinhar, enquanto ouviam música e conversavam. O ato de cozinhar, assim, era parte da convivência de família e amigos, e não apenas o ato de comer. 

Eu acho que nosso costume de fazer cozinhas isoladas do resto da casa é uma reminiscência dos tempos em que elas eram lugar de cozinheiras negras escravas, enquanto as Sinhás e Sinhazinhas se dedicavam, em lugares mais limpos, a atividades próprias de dondocas como o ponto de cruz, o frivolité, o crivo, a pintura e a música...

Fonte para ler o texto na íntegra: 

Amplie seus conhecimentos. Conheça a biografia de Rubem Alves. Clique no link:  Dia do Professor. Gaiolas ou Asas? “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas”. 
Rubem Alves. Biografia do autor
http://serravallenaafricadosul.blogspot.com.br/2013/10/dia-do-professor-gaiolas-ou-asas-ha.html


Interpretação de texto 

1. Qual é o tema do texto ? Quem é o seu autor  ?  
2. Leia o fragmento de texto: ... "Lugar chique e arrumado era a sala de visitas", Descreva os dois ambientes da sala do texto: a sala de visitas e a cozinha das Minas Gerais, onde o autor nasceu. 
3. Leia o último parágrafo do texto. Observe a pintura do artista francês Jean Baptiste Debret, que retratou o cotidiano do Brasil no século XIX. Qual o nome da tela ? Escreva um texto de até 6 linhas sobre a cena retratada na pintura. 

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